Até agora me abstive de comentar algo sobre os refugiados na Europa porque em todas as mídias – nacionais e internacionais – só se escuta falar disso e acho que vocês já têm informações suficientes, mas, por outro lado, o fato de eu ser uma blogueira de Viena torna impossível eu deixar de comentar sobre o assunto.

Eu não escrevo este texto para falar se sou a favor ou não. Vou apenas contar o que escuto por aqui e como está a situação em Viena e cada um de vocês tira sua própria conclusão sobre esse momento histórico, combinado?

Tudo começou, principalmente, porque  a guerra civil na Síria – está incontrolável e não é de hoje. Os sírios estão saindo de lá não em busca de um futuro melhor, mas sim em busca de um futuro. Eles querem sobreviver e por isso enfretam essa viagem de alto risco. Quem quer um futuro melhor pode pensar em outro jeito de conseguir isso em seu próprio país ou em viagens menos arriscadas. Quem quer sobreviver tem uma coragem imensa e faz o que for preciso para continuar vivo. Se eles ficarem na Síria, eles morrem. Se eles enfrentarem a viagem, mesmo que perigosa em vários pontos, eles têm a chance de continuarem vivos.

Como está a situação na Áustria? Tranquila, de certa forma. Todos os dias chegam milhares de refugiados nas estações de trem de Viena e eles querem continuar viagem para a Alemanha. Pouquíssimos ficam por aqui. A movimentação entre os que aqui moram está bem grande no sentido de ajudar os refugiados com alimentos, bebidas, oferecendo lugares para dormir e até trens para ajudá-los a chegar na divisa com a Alemanha. Nem todos os austríacos compartilham da mesma opinião: outros acham que se a Europa abrir realmente as portas, em alguns anos os refugiados vão impor a cultura deles e a que hoje existe acabará se perdendo. A ideia de que aceitar tantos refugiados aumentará a criminalidade também existe. Claro que essas ideias contra os refugiados são rebatidas porque a Alemanha (e vários outros países europeus) já teve sua época de fuga. É fácil perceber isso sendo brasileiro. Afinal, todo mundo conhece a arquitetura e alguns costumes do sul de nosso país, não é?

Como está a situação na Hungria? A Hungria construiu mesmo a cerca para que os refugiados não continuem a jornada pelo país, mas toma duas atitudes bem divergentes: a polícia está bem atenta ao sul e não deixa ninguém passar. Por outro lado, quando algum refugiado é encontrado depois de atravessar boa parte do país, os húngaros os deixam continuar a viagem para Áustria, que, por sua vez, ajuda a chegar na fronteira com a Alemanha, país-destino da maioria dos refugiados.

Por que a Alemanha? Por vários motivos. O mais óbvio é que Angela Merkel deixou bem claro que eles seriam bem recebidos. Então é claro que é para lá que eles querem ir! Mas se você pensa que o refugiado estará salvo por ter chegado ao destino, você está enganado. Ainda tem que passar por uma burocracia imensa! A Alemanha aceita 95% dos pedidos e isso dá o direito para o refugiado ficar mais tempo no país (não é mais temporário). Em contrapartida, esse índice de aceitação não é tão alto no resto da Europa. Aqui na Áustria, por exemplo, cai para 46%. Este é um outro motivo para eles preferirem a Alemanha. Também tem a questão do trabalho, que é o que todos procuram. Eles querem trabalhar e começar a vida do zero. Na Alemanha, já poderão trabalhar depois de 3 meses. Aqui na Áustria leva-se muito mais tempo. Por último, um está puxando o outro: muitos dos que estão indo para lá somente agora, estão indo encontrar os familiares que foram antes e estão esperando onde? Na Alemanha!

Essa situação dos refugiados atrapalha minha viagem a Viena? De forma alguma! Pode vir tranquilo. Você vai encontrá-los caso você chegue de trem. E, gente, eles estão aqui porque querem sobreviver. Não tem nada disso de que onde tem refugiado ficou perigoso. Claro que há desordem como atraso e cancelamento de trens, principalmente quando o destino ou ponto de partida é Budapeste, na Hungria.