Frequentemente me perguntam se vale a pena morar fora. Se você for flexível, gostar de conhecer culturas diferentes e tiver pique para começar tua vida do zero, vale a pena sim. Estas são as características de pessoas que provavelmente passarão pelas épocas difíceis, mas isso não significa que será sempre o melhor lugar do mundo. Conhecer o mundo é lindo, mas não é fácil.

Eu faria tudo novamente. Eu amo alemão, acho que é uma língua que tem tudo para ser feia por não ter melodia, por ter palavras gigantes e se em qualquer outra língua você escutar um “eu te amo”, você identifica na hora e suspira, mas em alemão… “Ich liebe dich” causa emoção em pessoas normais? Nenhuma! E mesmo assim, acho lindo. Sempre gostei!

Conhecer culturas diferentes é uma alegria imensa para mim. Schatz e eu gostamos de lugares desconhecidos. Quando viajamos para cidade conhecida, já procuramos um restaurante sem turistas, só com nativos e fazemos questão de comer por lá. Sempre tivemos sorte! Em Praga, fomos a um restaurante que nem as garçonetes falavam inglês. Foi lá onde aprendemos uma palavra nova em Tcheco: “Pivo“, que significa cerveja. O cardápio, todo em tcheco, pedimos na sorte. Éramos 5 pessoas, todos com pratos diferentes para cada um experimentar do outro. Amamos!! Ah, para quem não sabe, a moeda de Praga não é euro! Além de ser uma cidade super interessante, hotel e restaurantes são bem baratos. Quem não conhece ainda, fica a dica!

Outro ponto positivo de morar fora, especialmente na europa, é poder passar um final de semana em outro país! Eu morava na Alemanha e fazia curso na Áustria. Comprava coisas para a casa na Áustria também. Hoje, morando em Viena, posso ir e voltar no mesmo dia para Eslováquia – fica uns 50, 60km distante daqui. Isso me fascina!

Agora os pontos negativos: ficar longe de família, amigos, perder aniversários, natal, ano novo, almoços de domingo, perder a queda do primeiro dente de leite da sua prima por quem você tem um amor incondicional, perder o nascimento da filha de uma super-tia… Eu sou louca pela minha família e tenho que ficar longe de todos. Tenho que ver meus pais e irmãos doidos para me ver no Natal e falar que não poderei ir este ano. Eu não poderei ser tão presente para a filha de uma super-tia que nasceu após a minha mudança como fui presente na vida das outras primas. É pesado, gente. Não é fácil não!

Sem falar da outra prima que é a pessoa mais engraçada e criativa do universo! Ela inventa piadas, escreve em um papel e coloca na porta do quarto. Toda semana tem uma piada nova. Ainda escreve um livrinho de poemas! Me divirto horrores!!

Ontem foi aniversário do meu avô. Eu liguei para dar os parabéns e meu amorzinho de 6 anos atendeu ao telefone. Olha a conversa:

Ela: “Ah não, Lelê… Eu queria que você tivesse em Brasília sexta-feira junto com a Cacá! Ia ser tão bom!” (Minha irmã, Cacá, mora em Buenos Aires, mas vai passar o feriado em Brasília e minha priminha, que é goiana, vai para lá).
Eu: “Eu também queria, Nana… Mas fica complicado agora…
Ela: “Sabia que eu tenho um amigo que mora na Áustria também? De que cor é a casa ao lado da sua?
Eu: “Bege!
Ela: “Mentira! A casa dele também é bege! Tem mais alguma coisa na frente da casa? Um portão… Alguma coisa?
Eu:”Não, não! A Lelê mora em prédio!
Ela: “N-ã-o acredito!! Ele também! Ele passa na frente da sua casa todos os dias! Vou pedir pra ele dar carona para você vir pra Brasília, tá bom?

Pergunta de prova, gente:
(ITA 2012) Como eu consigo ficar longe de uma coisa fofa dessas?

Nessas horas dá uma dor no coração e aí é só focar nos pontos positivos que o coração se acalma (não passa, só acalma). É estranho isso, mas mesmo com essa dorzinha constante no peito, você sabe que está exatamente onde deveria estar. Simples assim.